Era dia de pegar as trouxas e encarar o mundo. Arrumamos as malas e saímos de Petrolina ainda pela manhã, não queríamos correr o menor risco de ficar na estrada. Nosso rumo era Lagoa Grande, a próxima cidade do mapa banhada pelo rio São Francisco. No caminho faríamos uma breve parada na Embrapa na tentativa de conhecer os projetos mirabolantes de frutas geneticamente modificadas. De tarde, saíriamos pela cidade para conversar com padre, delegado, gerente de banco, enfim, qualquer alma que pudesse nos ajudar, já que descobrimos as maravilhas dos contatos.
Por falar neles, tínhamos um na Embrapa, sr. Gherman. Assim que chegamos na empresa, pedimos para falar com ele que … estava viajando! Mas isso não foi e nem pode ser empecilho para jornalistas. Na verdade, um probleminha rapidamente resolvido, em uma longa conversa com a secretária da Chefia, pelo interfone da portaria, sobre o nosso projeto e intenções. Para melhorar, tínhamos em mãos um documento da Universidade que explicava tudo. Conseguimos entrar, claro!, mas nenhum dos guias estava disponível para nos ajudar e o jornalista da Embrapa estava com outro jornalista pela cidade.
Para passar o tempo até meio-dia e não pagarmos diária extra no hotel, passamos o resto da manhã na biblioteca. E eu diria Que biblioteca! Como é bom poder estar novamente rodeada de livros e pessoas estudando, levada pelo silêncio do ambiente e o turbilhão de conhecimentos na cabeça. Separamos milhões de reportagens e livros que falavam da transposição e mandamos fazer xerox.
Dez minutos depois estávamos em Lagoa Grande. Na entrada a placa avisa “Capital nordestina da uva e do vinho”, uma cidade de 20 mil habitantes, cuja economia gira em torno da vinicultura e do turismo. Esperávamos uma cidade no estilo de Petrolina. Esperávamos uma cidade nos moldes das de 20 mil habitantes do sul do país. Mas com certeza não foi o que vimos pela frente. Assim que avistamos a placa de entrada, avistamos a de saída. A avenida principal de Lagoa Grande é a BR-428 e tem apenas uns 5 km de extensão. Para os lados nada muito desenvolvido. Os restaurantes não davam coragem para entrar. A fome passou. A alternativa mais viável no momento foi, mesmo sem contatos, encarar a agência do Banco do Brasil, único banco na cidade. E aí mais um choque: o horário de atendimento é das 9h às 12h e só!
Paradas não podíamos ficar, nosso contato na Embrapa tinha ferrado, a próxima cidade era a 52 km e ficar indo e voltando de Petrolina seria um desgaste físico e um rombo no bolso. Olhamos nossa agenda e lembramos de um contato da Fazenda Garziera, vínicola mais popular da região. Nossa visita seria na quarta pela manhã, mas não deu outra, pé na estrada, mil cuidados e canetas em mãos. Chegamos e procuramos Jô, mas quem nos atendeu foi Edvaldo. Um rapaz simpático, pernambucano típico, que nos indicou o melhor hotel da cidade (um daqueles da beira da estrada) e marcou nossa visita. Eram 13h e às 16h estaríamos lá de volta.
Já que estávamos perto de Vermelhos, um distrito de Lagoa Grande, fomos conhecer o lugar. Como todas os caminhos por aqui, seguimos a estrada incansavelmente reta. Nada muito diferente do centro da cidade, mas me pareceu (particularmente) um cantinho mais familiar. As mulheres estavam nas janelas das casas e o movimento nas ruas era quase imperceptível. Continuamos seguindo a avenida e deparamos com uma espécie de mirante no Velho Chico. Não hesitei. Parei o carro e desci para ver aquela imensidão. A Carol me seguiu no primeiro instante, mas logo pediu para que saíssemos dali, se sentia ameaçada. Um bando de meninos, entre 13 e 15 anos chegavam no local.
O que inibiu a Carol, me tranqüilizou. Eram apenas guris de ‘cueca’ indo tomar banho no rio. Eles usavam o mirante como trampolim. Numa tentativa de aproximação, não fomos bem recebidas. Tentamos puxar papo com duas meninas e elas não nos entendiam ou não sabiam lidar com a situação. Percebendo que não teríamos retorno, nos afastamos e ficamos só observando a movimentação.
Nosso almoço foi ali, na beira do São Francisco. Por mais que estivesse angustiada, preocupada com o que eu acabara de ver, nervosa, insegura e com medo, naquele instante que vi o rio senti um conforto, como se alguém muito próximo me desse um abraço. Talvez o rio me remeta algo familiar. Talvez me faça lembrar o porquê estou aqui. Não sei o que passa por minha cabeça agora só sei que nosso trabalho começou a partir deste momento. Agora encontramos o verdadeiro sertão nordestino, agora encontramos a miséria, a seca, a não-cultura e a ausência total de expectativas.
Quem são as pessoas que moram por aqui? O que fazem? Por que não se mudam? O que pensam? Como o rio influencia suas vidas? Espero sanar essas dúvidas amanhã e depois…
12, setembro 2007 at 12:12
Ver com outros olhos: o que seria a não-cultura? Ou seria o não letramento? bjs
Adorei os meninos de “cueca”.
12, setembro 2007 at 8:32
Embrapa, meninas.
12, setembro 2007 at 8:59
Zeca, a não-cultura seria uma não-consciência sobre quem eles próprios são, o que significa o rio São Francisco e o que ele representa para o país, não ter perspectivas de vida repetindo sempre o que os pais e avós fizeram e o que seus filhos provavelmente vão fazer sem se dar conta de tudo isso.
13, setembro 2007 at 1:49
Tici, esses comentários dariam uma nova matéria, não?
Acho que já dá pra escreverem sobre a visão de vcs sobre o modo de ser do povo.
É realmente um povo sem perspectiva ou a cultura “descansada” não os torna ativos na busca de um futuro melhor?
6, novembro 2008 at 8:43
caro colega as suas colocoçoes referente a rota da uva e do vinho,sobre a cidade de lagoa grande,expressa a sua ignoracia perante a missegenaçao do nosso pais,como pode voce escrever essas barbaridades na internet sobre a nossa regiao?acho que voce nao entedeu o processo.digo mais etnocentria tem limites,estude um pouco mais…e pesquise as regioes antes de visita-as.quanto a corol deveria ter medo de outras coisas nao de adolecentes puros de coraçao ao contrario de voces.
6, novembro 2008 at 9:39
Amigo desculpa, mas achei seus comentários referentes ao vale do são Francisco uma estupidez. A não- cultura que você menciona extravagou etnocentricamente,recomendo que quando você for visitar uma região junto com Sra. Carol, pesquise primeiro a região e leia mais sobre miscigenação o que torna o Brasil um pais cultural. Diferente da sua postura preconceituosa e racista. Deveria mesmo ter conversado com os nativos se não fosse seu preconceito assustador. Para sua informação a região tem o maior potencial do mundo em:
• Produção de uvas colhe se duas safras e meia por ano
• E o único lugar do mundo que se podem elaborar vinhos jovens frutados e aromáticos o ano inteiro
• É o único lugar do mundo que o turista poderá ver todas as partes fonológicas da videira em um só dia
O município de lagoa grande possui um dos menores índices de desemprego do Brasil menos de 3%%. Aqui è o segundo lugar do Brasil que se cursa enologia, tem varias faculdades estadual, particular e federal com todos os cursos universitários, inclusive no povoado que você se refere como o pior lugar do mundo, tem cursos universitários de: enfermagem, pedagogia, administração e sociologia.
O município tem apenas 13 anos de emancipação e a região só começou a se desenvolver apartir de 1999, o turismo só apartir de 2001.a região esta apenas engatinhando e pretendemos avançar porque eu, como todos que mora nesta região acredita no potencial de ambos. Quanto aos guris como você menciona, deveria pesquisar a origem do povoado de vermelhos e a influencia dos nativos da ilha do pontal que fica defronte ao mirante,os primeiro habitante da ilha eram índios, e os jesuítas vieram a 350 anos com a missão de catequizá-los,logo depois foi quilombola, temos La única igreja construída pelos jesuítas a 307 anos,também surgiu da ilha a congada(dança de origem africana)temos historia,cultura e dignidade e queremos a sua retratação.